Quando a doença “entra em casa”, pode prender tanto um corpo como todos os gestos da relação, criando exigências novas, medos e desafios perante todas as adaptações que se exigem.
A doença traz a consciência, de todos e em conjunto, do que não se controla e por isso a informação congruente, clara e adequada é importante. As crianças/jovens também têm direitos: o direito de falar sobre as suas preocupações, de dirigem perguntas (mesmo as mais difíceis), de ficarem tristes, zangadas ou confusas podendo ter quem as ampare nesse sentir.
Até quando é a criança a estar doente, estudos (eg. Ward, 1995) indicam que são as próprias crianças a querer conversar sobre o assunto.
Deixamos algumas sugestões para facilitar este processo de adaptação, desmistificando medos e padrões de comunicação:
- Os problemas de adaptação decrescem quando os mais novos têm oportunidade de falar sobre o que está a acontecer, sobre o que vêm, sentem e pensam.
- Explique, com honestidade e consistência, os acontecimentos (“está muito doente, por isso não tem estado connosco em casa e está no hospital onde podem cuidar melhor dele”) e as novas informações (não deixe os mais novos a imaginar, sozinhos, o que pode estar ou não a acontecer).
- Adeque essa transmissão de informação à idade da criança (pode seguir as dicas do texto “A morte na família: fala-me de amor”) e ao seu conforto perante a conversa: prepare-se, esteja atento à sua expressão corporal e facial, escolha o que consegue dizer, não se preocupe em dizer tudo mas sim em dizer a verdade possível naquele momento.
- Mantenha as rotinas, dentro do possível, para securizar os mais novos e garantir-lhes o direito a manterem-se felizes apesar das dificuldades.
- Permita, se mostrarem essa vontade, as visitas à pessoa doente, o envio de uma carta ou um desenho. Permita a despedida, acompanhando e sustendo.
Principalmente: desacredite no trauma de ver/ouvir/falar e abraçar. O que poderá tatuar as memórias dos mais novos são os assuntos mal resolvidos, mal conversados e ambivalentes.
Falar de luto e comunicar a morte de alguém é uma conversa que vai além do sofrimento e do silêncio ensurdecedor de tudo o que se foi fazendo tabu. É uma conversa que reclama valores que evocam o poder da relação e do amor.
Aprender a aceitar a morte é uma das lições mais importantes que uma criança tem de fazer na sua vida. Assim… se as crianças e jovens testemunham muitas mortes, sejam elas ficcionais (cinema, televisão, livros) ou concretas (significativas ou impessoais), evitar o assunto é um exercício supérfluo e cansativo. Mas como não evitar? Como comunicar e redefinir experiências de dor, que são simultaneamente poços fundos de sofrimento?
Para o adulto conseguir falar de morte, em família, pode pensar em alguns passos no caminho: ouvir-se primeiro, proteger-se e cuidar de si; conhecer as percepções das crianças e jovens, antecipando as suas necessidades de acordo com a sua fase de desenvolvimento e comunicar, sempre, com e na honestidade, mesmo na hora das perguntas difíceis.
Cuidar-se, porque a pessoa amada que a criança perde é também a sua pessoa amada. Pode sentir-se esgotado, confuso ou incapaz de tomar decisões. Isso não é anormal nem egoísta. É a dor da perda a pedir-lhe para ser paciente consigo. Nesta exaustão de tarefas e sentimentos pode ser importante suspender as grandes decisões (mudar de casa, de cidade, escola), manter uma rotina de actividade, contrariando a imobilidade que pode despertar (ficar longas horas na cama, sem interacção e rotinas na família pode criar um cenário assustador e caótico) e conviver com outros adultos (procurar fontes de suporte para a sua própria dor individual). Mas atenção, vestir o papel de herói depois de uma morte significativa não alicerça esperança, apenas transmite que pode ser errado chorar. Quando o adulto se aceita e observa além do mergulho na dor, é capaz de atender ao que os mais novos precisam e de responder de forma verdadeira e segura.
Apesar de existirem factores comuns que influenciam a reacção à perda - como as circunstâncias da morte (se foi esperado, se foi por doença prolongada, num acidente repentino…), a forma como a criança tomou conhecimento, a relação e proximidade da criança com essa pessoa, a estrutura familiar após a morte, a forma como as suas necessidades são atendidas – as crianças exigem dos adultos respostas diferentes conforme a sua fase de desenvolvimento:
Sobre as crianças com menos de 10 meses sabemos que reagem naturalmente à perda /afastamento da pessoa cuidadora. Podem aperceber-se da perturbação das pessoas à sua volta, como a mudança de rotinas e horários, acréscimo de ruídos, choro intenso, movimentos ou ausência dos mesmos perto de si, ausência de rostos sorridentes, de brincadeiras tipicamente partilhadas e de um colo tranquilo.
Crianças entre os 10 meses e os 2 anos podem reagir com birras, expressando maior agitação comportamental a vontade de fazer regressar o cuidador. Embora as crianças desta faixa etária não sejam capazes de conceptualizar a morte e expressar tudo o que vêem e sentem, as recordações podem ficar “guardadas”. Mais tarde, se fizer sentido, pode analisar as suas memórias ajudando-as a atribuir-lhes sentido. Porém, nesta fase, o melhor que os adultos podem fazer é manter ao máximo as rotinas e os cuidados, mesmo que precisem de dividir tarefas em família para cumprir todos os papéis.
Com as crianças em idade pré-escolar (entre os 2 e os 5 anos) um erro comum é pensar que “são pequenas demais para perceber o que acontece”. Contudo, a sua compreensão é suficientemente real para sentir a dor da perda, quer pela manifestação de maior desorientação (podem parecer confusas, perdidas por não saberem onde está a pessoa), quer por comportamentos regressivos (na tentativa de reduzir a ansiedade podem voltar a pedir o biberão, a chuchar no dedo), quer na expressão dessa dor através do lúdico (o brincar) ou da imitação dos adultos (por exemplo, podem imitar o comportamento do avô, usar as roupas, os sapatos e procurar em seu redor o que as possa reaproximar da pessoa). Pode, também, surgir maior angústia de separação, como se todos esses momentos pudessem indicar novas perdas e, não se separando, pudessem garantir o estreitamento desse vínculo e segurança.
Com estas crianças o importante é, desde logo, informar. Manter a morte (real ou iminente) em segredo desperta o sentimento de traição e dúvida. Informe-a do que aconteceu, e sobre o que pode acontecer (“vão aparecer pessoas para nos ajudar, abraçar”, “algumas choram muito”), procurando um local tranquilo e a sós, enchendo-se de carinho e paciência. Ao falar da morte, com crianças desta idade, é importante usar uma linguagem simples, directa e sem espaço para o incompleto. Tendo em conta que as crianças desta idade tendem a pensar na morte como temporária, é importante transmitir que a morte é definitiva, sem culpas, castigos ou abandonos. Pode enfatizar noções como “muito muito muito doente”, ou “estamos mesmo mesmo muito tristes, é normal” e procure evitar expressões ambíguas que deixam a possibilidade de regresso (“foi dormir um sono muito grande”, “Deus quis levar a mamã para junto dele” em oposição ao “ficar junto de nós”, “perdemos o avô”, “o teu irmão foi-se embora”).
Mais tarde, entre os 6 e os 9 anos há que considerar que de forma geral as crianças já compreendem a morte como definitiva. Daí que a negação (recusar-se a aceitar revela, na verdade, uma dor profunda), idealização (da pessoa perdida), culpabilização, oscilações de humor e medos (pela sua sobrevivência, quem vai cuidar dela, da família, ajudar na escola…) possam ser respostas típicas.
Já na adolescência a necessidade de afirmar a sua identidade e autonomia pode confrontar-se com a procura de segurança e de um colo que alivie a dor da perda. Podem temer que esta perda, principalmente se for dos progenitores, os torne diferentes ou frágeis para sempre, tendendo a não exteriorizar o que sentem. Podemos encontrar um adolescente aparentemente apático e imperturbável, mas no risco de surgir um efeito tardio, quando a família já se reorganiza. Tristeza, irritabilidade, oscilações de humor, alterações de comportamento, maior isolamento, identificação com a pessoa perdida… tudo pode ser espelho do seu sofrimento.
Deste modo, a necessidade de informar mantém-se como principal, dando-lhes liberdade para sentir e pensar. Dessa informação pode fazer parte o funeral e a participação no mesmo. Esta decisão deve ser tomada em família, com a criança /jovem: dependendo da vontade que manifesta, pode ter aqui uma oportunidade para entender e enquadrar esta realidade. Se a criança/jovem pedir para estar, permita-o, sabendo antecipar o que vai encontrar e garantindo alguém junto dela.
Encoraje-os a falar da morte e a demonstrar o que sentem e pensam, num espaço de conforto e sem julgamentos. Traga-as, docemente, à realidade da perda e à eternidade da memória e da saudade… Quando se perde alguém para a vida, não se perde para nós mesmos.
Naturalmente que, apesar de ser compreensivo, é importante que estabeleça limites aos comportamentos, até para os proteger (“entendo que estejas muito triste e confuso, mas não posso deixar que partas estas coisas que gostas” ou “que chegues tão tarde”). Dedique-lhes tempo e aceite o tempo do processo de luto de cada um, mas mantenha as regras da casa, dando-lhes orientação e estabilidade. Reconheça o seu sofrimento e garanta a confidencialidade, para que possam expressar emoções sem vergonha e medo. Mais ainda, aceite que o adolescente pode querer expressar-se no seu grupo de pares. Aceitar o valor que o grupo tem no seu bem-estar e encorajar essa pertença é dar-lhes o direito a manterem as redes da felicidade.
É importante aceitar que os porquês não terão todos resposta. A morte é universal e não temos poder absoluto sobre ela, diga-o com firmeza e use a saudade como prova do amor.
Se for difícil comunicar, desmistificar e avaliar o que é saudável pode procurar ajuda. O processo de luto, mesmo pertencendo a cada um, pode ser feito com um suporte especializado.
Quando conseguimos ajudar os mais novos a redefinir o lugar desta perda (dentro do que são) estamos a fomentar uma auto-determinação e compreensão da existência que lhes serão úteis por toda a vida…
A verdade é esta…“as crianças e jovens não estão apenas a preparar-se para a vida mas a vivê-la”.
Nos dias de hoje, as crianças e os adolescentes têm acesso a um vasto leque de informação sobre sexo e sexualidade. As conversas com amigos, a educação sexual fornecida nas escolas, os media, a internet, etc. representam fontes diversas onde os jovens procuram tirar dúvidas e saber mais. Porém, quantidade não significa qualidade. Algumas escolhas por vezes revelam-se insuficientes ou mesmo inadequadas.
Muitos pais procuram demitir-se desta função por considerarem tratar-se de um tema demasiado difícil de abordar. Razões como a antecipação de embaraço ou a dificuldade em dar as “respostas certas” são muitas vezes alegadas pelos pais para justificarem o evitamento ou o adiamento constante destes tópicos. Enquanto figuras de referência para os filhos, os pais desempenham um papel importante na educação para a sexualidade de jovens e crianças. O envolvimento dos pais no processo de educação para a sexualidade e para a intimidade constitui um factor importante, preventivo e de protecção contra relações e comportamentos de risco.
Mas como fazer? Por onde começar? O que dizer? Eis alguns conselhos que o/a podem ajudar:
Antes de conversar com os seus filhos sobre sexualidade, páre um pouco e reflicta acerca da sua própria forma de olhar para a sexualidade: Qual a sua atitude perante o tema? Quão confortável se sente com ele? Quão positiva ou negativa é a sua visão acerca do sexo e da intimidade? Que mensagens quer ver passadas para os seus filhos?
Quanto mais cedo melhor! As crianças mais pequenas têm uma curiosidade natural sobre o corpo, as relações e, no fundo, sobre o mundo que as rodeia. Aproveite esta fase para dar informações básicas e satisfazer a sua curiosidade. Lembre-se que se evitar ou recusar-se responder poderá transmitir mensagens negativas sobre o tema e aumentar a probabilidade deles não procurarem o seu apoio quando dele necessitarem;
Verbalize as suas opiniões de forma clara aos seus filhos. Não evite ou omita a sua visão sobre as várias temáticas. Partilhe o que acredita ser melhor para eles sem impor a sua perspctiva;
Não espere pelo momento certo. A sexualidade e a intimidade podem ser abordadas no dia-a-dia de forma natural (e.g. Quando a família vê o telejornal e surge uma notícia sobre temáticas sexuais ou relacionais);
Não tente dar a informação toda de uma vez;
Adapte a linguagem usada, a quantidade e a qualidade da informação à idade da criança ou do adolescente;
Reforce que, independentemente da sua opinião enquanto cuidador, o seu interesse último é sempre o bem-estar e a saúde deles;
Mantenha-se informado. Procure dar informações verídicas, claras e baseadas em dados credíveis. Se não sabe responder a determinadas questões, pode juntar-se aos seus filhos e procurarem em conjunto as melhores respostas. Pode também pedir ajuda a pessoas que estajem mais esclarecidas ou mesmo apoio especializado (e.g. enfermeiros, médicos, psicólogos, sexólogos, professores). Isso fortalecerá a sua “equipa”;
Mostre abertura e disponibilidade para que os seus filhos o/a procurem para conversar;
Partilhar as seus pontos de vista é importante mas não se esqueça de ouvir. Não parta de pressupostos ou ideias feitas. Escute atentamente e faça questões para que consiga dar as melhores respostas às reais dificuldades ou dúvidas dos seus filhos;
Encoraje o uso de métodos contraceptivos e a procura de apoio especializado, nomeadamente as consultas de planeamento familiar;
Admita as suas dificuldades. Pode partilhar que o tema o/a deixa desconfortável ou que não sabe algumas coisas. Ainda assim, procure explicar-lhes que dará o eu melhor;
E se está a pensar: “Isso não é para mim” ou “Já não vou a tempo. O meu filho já é crescido e, portanto, não vale a pena”, lembre-se que ser pai ou mãe é uma tarefa a tempo inteiro e para o resto da vida. Nunca é tarde ou só para alguns.
Explicar a uma criança que é adoptada não é tarefa fácil. Será que há uma única forma correcta? Será que há uma idade específica para a conversa ocorrer? E a seguir, quais as perguntas que a criança vai fazer?
É normal que os pais se interroguem. Na verdade, não há uma única forma de conversar acerca da adopção e muito menos uma idade correcta. O mais importante é introduzir o tema tão cedo quanto possível e com a maior naturalidade. Os pais podem explicar que nem todos os filhos nascem da barriga das mães; que ser pai ou mãe é tomar conta, é gostar, é amar. Em muitas situações pode ser importante falarem do que os levou a tomar a decisão de adoptar uma criança e de como sentiram esse caminho. É importante que os pais falem da adopção sem ansiedade, caso contrário há maior probabilidade de ser sentido pela criança como algo estranho, ou de se tornar um tema tabu na família.
Claro que as crianças vão fazer perguntas. Isso significa que estão a pensar na informação que os pais lhe deram e que se sentem seguros para interrogar. As perguntas devem ser respondidas de forma clara, tendo em conta a idade da criança. É importante que a informação seja progressivamente mais detalhada e que ela sinta que não existe uma resistência ao tema ou a revelar a história da sua vida.
Telefone: 225 491 506
Telemóvel: 910 460 460
Email: geral@icarepin.pt
Período de Funcionamento:
Semana- 8h30 / 21h00 Sábado- 9h00 / 17:00